terça-feira, 6 de abril de 2010
Mahatma Gandhi (1869 – 1948)
“A única revolução possível é dentro de nós”.
O legado da não-violência
Mohandas Karamchand Gandhi, mais conhecido como "Mahatma" (grande alma) Gandhi, nasceu dia 2 de outubro de 1869, na Índia Ocidental. Seu pai era político local e sua mãe, religiosa. Aos 13 anos, se casou com uma garota de sua idade e iniciou uma vida de sexo ativa. Desafiando regras de sua casta, foi estudar Direito na Inglaterra, prometendo se abster de vinho, mulheres e prazeres. Lá ele adotou o vegetarianismo e organizou um clube vegetariano com interesses altruísticos. Sua primeira leitura foi o texto da escritura hindu (Bhagavad –Gita), A Canção Celestial. Esta escritura e o sermão da Montanha passaram a guiá-lo espiritualmente em suas meditações e orações diárias.
Retorna à Índia em 1891, após a morte de sua mãe, e tenta a carreira de advogado. Vai até a África do Sul para defender uma empresa hindu num processo judicial. A discriminação racial lá praticada despertou sua consciência social. Para ele, “o aprendizado me levou a descobrir o lado melhor da natureza humana e a entrar no coração dos homens”.
Ao deixar a África, leu no jornal que estava sendo proposta uma lei que privaria os hindus do voto. Apoiado pelos amigos, ele fundou em Natal o Congresso hindu, em 1894. Vai à Índia buscar sua esposa e filhos em 1897 e, ao retornar à África, sofreu ameaças para interromper suas atividades como advogado. Após escapar de espancamentos e até de linchamento, ele se recusa a processar os que o maltrataram. Acreditava firmemente no princípio de ego-restrição, com respeito a uma pessoa infratora. Depois disso, apoiou os britânicos na Guerra Bôer. Gandhi permaneceu na África do Sul por 20 anos, defendendo os direitos dos hindus.
Experimentou o celibato por trinta anos. Em 1906 levou o juramento Brahmacharya para o resto da vida. Em setembro deste ano, ocorreu a primeira desobediência civil em massa. O governo de Transvaal quis registrar a população hindu. Furiosos com a ordem humilhante ameaçaram responder violentamente. No entanto, decidiram não obedecer. Gandhi chamou esta técnica de Satyagraha, isto é, força da verdade. Mas em 1907, o governo instituiu o ato de inscrição, levando à prisão Gandhi e vários hindus. Sua pena foi de dois meses sem trabalho duro. Dedicou-se então à leitura de obras como Desobediência Civil, de Thoreau e trabalhos de Tolstoy. Logo ele começou a perceber as possibilidades infinitas do “amor universal”.
O movimento pela conquista dos direitos indianos na África do Sul continuou crescendo, apesar de perseguições e prisões de milhares de indianos. Para enfrentá-las, Gandhi desenvolveu a atitude da “não violência”, ou “ahimsa” (sem dor, a base da procura para a verdade). Segundo ele, quando se vive espiritualmente, ferir ou atacar outra pessoa significa atacar a si mesmo.
Gandhi instituiu duas comunidades rurais: em Satyagrahis-Phoenix Farm e Tolstoy Farm. Escreveu e editou o diário "Opinião indiana", para elucidar os princípios e a prática de Satyagraha, discutindo temas como: direitos dos hindus na África do Sul, proibição de imigrantes asiáticos e a não validade de todos casamentos não cristãos.
Em 1913, ao conduzir uma marcha com mais de duas mil pessoas, foi preso e solto sob fiança e preso novamente. As greves continuavam, envolvendo cerca de 50 mil operários e milhares de indianos escravizados na prisão. Em outro episódio, Gandhi foi expulso da primeira classe de um trem ao se recusar a ceder seu lugar a um branco. Mesmo assim, ele cancela uma nova marcha e prega “o perdão é o ornamento do valente”. Depois de muita negociação, os matrimônios tornaram-se válidos independentes da religião, os impostos atrasados foram cancelados e concederam mais liberdade aos indianos. Gandhi constatou o poder do método Satyagraha para transformar a civilização moderna. “É uma força que se ficasse universal revolucionaria ideais sociais e anularia o despotismo e o militarismo”.
Em 1915, ele voltou à Índia para exercer seu papel de conscientizador da sociedade hindu e muçulmana na luta pacífica pela independência indiana, baseada no uso da não-violência. Ele continuou a ajudar necessitados e crianças e a protestar contra injustiças aos operários de tecelagens. Detido novamente, reconheceram que ele era o único que poderia controlar a multidão. A outros trabalhadores oprimidos pelas regras coloniais britânicas, ele incentivou a desobediência civil e jejuou para fortalecer e encorajar aqueles que o amavam.
Um dos maiores desafios de Gandhi contra o governo britânico na Índia foi em 1919, contra os poderes arbitrários do Rowlatt Act. A redução da liberdade civil revoltou as massas e a violência era geral. Ele pediu uma greve geral mas a cancelou. Em 1920 iniciou campanha nacional de não cooperação com os britânicos. Ele divulgava suas idéias em dois semanários: Índia Jovem, em inglês, e o Navajivan em Gujarati. Viajou por toda a Índia mostrando a necessidade da prática da desobediência civil e do uso da não violência. Escreveu sua autobiografia nos fins dos anos 20, mostrando o esforço de superar os próprios erros. Seu programa contemplava: igualdade, nenhum uso de álcool ou droga, unidade hindu-muçulmana, amizade e igualdade para as mulheres. Estes cinco pontos representavam os dedos da mão, e conectados ao pulso, simbolizavam a não-violência.
Finalmente, em 1928, após muitos atos de desobediência civil contra o aumento de 20% em impostos britânicos, conseguiram cancelar o aumento, libertar os presos e devolver terras confiscadas. Sua luta pela independência da Índia prosseguia, com data limite estabelecida por ele até o fim de 1929.
Outro ato histórico foi desobedecer à “Lei Salgada”, que proibia a população de fazer seu próprio sal, monopólio dos ingleses. Gandhi juntou milhares de pessoas que passaram a fazer o próprio sal com água do mar. O movimento cresceu tanto que os presídios não comportavam mais tanta gente. A repercussão na Europa foi tamanha que Gandhi foi chamado para reunir-se com o vice-rei Irwin, em 1931. O acordo entre eles resultou no fim da desobediência civil, na soltura dos presos e na permissão da fábrica do sal. Ocorreu uma grande conferência em Londres e Gandhi pode conhecer Charlie Chaplin, George Bernard Shaw, Maria Montessori, entre outros. Em transmissão de rádio para os Estados Unidos, falou que a força não violenta é o modo mais consistente, humano e digno. Discutindo relações com os britânicos, afirmou que não queria somente a independência, mas também a interdependência voluntária baseada no amor.
Para defender o direito de castas como os harijans, ele iniciou jejum em 1932. No ano seguinte, o jejum de 21 dias para purificação o levou à prisão, pois funcionários britânicos temiam sua morte. Mesmo com a proximidade da II Guerra Mundial, a todos os envolvidos ele recomendava a não violência contra Mussolini. Em 1942, preso junto com outros líderes da luta pela não-violência, somente ele sobreviveu ao jejum. Ao término da guerra, falou sobre “a necessidade de uma paz real baseada na liberdade e igualdade de todas as raças e nações”. A independência da Índia foi conquistada em 15 de agosto de 1947, antes disso ele ainda enfrentou vários conflitos entre hindus e muçulmanos, que queriam um estado livre para o Paquistão. A Índia realizou, assim, a maior revolução não-violenta da história mundial. Gandhi foi assassinado por um hindu numa reunião de oração, em 30 de janeiro de 1948.
Mais frases:
"A minha vida é um Todo indivisível e todos os meus atos convergem uns nos outros. Todos eles nascem do insaciável amor que tenho para com toda a humanidade”.
"Creio poder afirmar, sem arrogância e com a devida humildade, que a minha mensagem e os meus métodos são válidos, em sua essência, para todo o mundo”.
"A não-violência não existe se apenas amamos aqueles que nos amam. Só há não-violência quando amamos aqueles que nos odeiam. Sei como é difícil assumir essa grande lei do amor. Mas todas as coisas grandes e boas não são difíceis de realizar? O amor a quem nos odeia é o mais difícil de tudo. Mas, com a graça de Deus, até mesmo essa coisa tão difícil se torna fácil de realizar, se assim queremos”.
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